O caminho para o paraíso
Havia um imenso castelo, construído para um rei, uma rainha e uma princesa. Era um castelo dourado, radiante que brilhava intensamente sob a luz do sol. A família real vivia em perfeita harmonia e felicidade, espalhando esta mesma harmonia entre os povos da região. Era uma terra santa, uma terra abençoada. Nunca se ouviu falar de qualquer doença, tristeza, sofrimento ou dor naquela região. A felicidade era a única forma de se viver ali.
Certo dia um jovem de outra cidade distante, resolveu conhecer a tal cidade da felicidade, que tanto comentavam. Quando chegou a cidade, logo avistou o grande castelo dourado que brilhava reluzente no alto de uma montanha, e logo se encantou pelo seu brilho. Ele sabia que o segredo de tanta felicidade vinha de lá, do castelo dourado.
Seguiu pela estrada até encontrar os portões dourados do castelo, que estavam trancados. Como era um forasteiro, certamente não teria permissão para entrar, então resolveu ficar ali mesmo, no bosque que cercava os muros do castelo, até que surgisse uma oportunidade de entrar.
Sentado em uma pedra ele pensava em como poderia entrar, uma vez que os murros eram altíssimos e os portões pesadíssimos. Olhou para as árvores e viu que eram altas o suficiente para que ele pudesse ver o interior do castelo. E assim ele fez. Escolheu a mais alta das árvores e subiu. Quando estava lá no alto, ele viu os lindos jardins que contornavam a belíssima construção dourada.
Viu os pássaros empoleirados na fonte, o colorido exuberante das flores e uma linda jovem sentada num banco, que, solitária olhava para o céu. Ele se assustou com a jovem que caminhava em sua direção, e como ela olhava para cima, por certo iria descobri-lo.
Assim, ele tentou subir o mais alto que pode, apoiando-se nos galhos mais altos para não ser visto. Na tentativa de subir e se esconder, o jovem pisou em um galho mais fino que partiu-se ao meio com o peso de seu corpo, fazendo com que ele se segurasse apenas com as mãos e suas pernas ficaram balançando sem qualquer apoio.
Como um galho havia se quebrado, o ruído fez com que a jovem princesa olhasse para o alto da árvore e surpresa, viu a dificuldade em que se encontrava o jovem curioso. Prontamente ela pôs-se a ajudá-lo, pedindo para que ele descesse um pouco mais e se apoiasse no muro, que seria mais seguro.
Ele obedeceu. De pé no muro do castelo ele não sabia o que fazer, nem o que dizer, apenas olhava para a linda jovem encabulado por ter sido pego de surpresa. Ela também olhava para o estranho rapaz e esperava que ele lhe dissesse algo que justificasse a posição em que se encontrava.
Um jardineiro que estava por perto viu quando o rapaz desceu da árvore e pisou no muro. Não o surpreendeu mas chegou mais perto para ver qual seria a sua atitude.
Ele disse meio que gaguejando, pois o medo e a vergonha o impediam de falar com firmeza:
-Meu nome é Thomas, eu vivo numa cidade onde todos são tristes, onde há dor e sofrimento por todos os lados. As pessoas não tem alegria e algumas já perderam a esperança. Há doenças de todos os tipos e a raiva e o medo se espalham rapidamente. Eu não consigo mais viver dessa maneira. É insuportável ver as pessoas se entregarem ao desânimo sem reagir, sem lutar por si mesmas e por uma vida melhor. Eu não aguento mais ver as pessoas se desprezarem e se menosprezarem tanto, ao ponto de acharem que são insignificantes, e que não tem valor algum. Algumas seguem regras e imposições que nem elas mesmas acreditam. Não há liberdade, e eles não se importam mais, apenas aceitam porque acham que não tem poder algum para mudar as coisas.
Eu precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa antes que fosse tarde demais. Eu ouvi falar desse lugar onde as pessoas são livres, felizes e alegres, onde não existe o sofrimento, a dor ou qualquer tipo de doença. Para ser sincero eu não acreditei e vim até aqui para ver com meus próprios olhos. Eu gostaria muito de saber como vocês vivem e como eu poderia levar um pouco dessa felicidade para o meu povo.
A princesa o ouvia com espanto, ela não imaginava que havia algum lugar nesse mundo onde as pessoas não fossem alegres, felizes e saudáveis. Ela olhou atentamente para o rapaz e viu em seus olhos as marcas da tristeza. Percebeu que estava sendo sincero e pediu ao jardineiro que lhe ajudasse a descer.
O jardineiro assim o fez. Quando Thomas estava no chão, olhou para a princesa e curvou-se para a frente em sinal de reverencia e respeito.
A jovem acenou gentilmente com a cabeça e disse:
- Meu nome é Sofia e você é bem-vindo a este reino.
- Eu lhe agradeço de todo o coração e peço que me desculpe pelo transtorno, eu não tinha a menor intensão de invadir sua propriedade, mas não sabia como entrar no castelo. Por favor me perdoe.
- Sim, foi uma maneira pouco convencional, mas você está perdoado. É muito difícil para mim acreditar que existe um lugar onde as pessoas são tristes e doentes e só há infelicidade. Eu nasci neste lugar e desde então eu só conheci a beleza e a felicidade. Bem, eu não sei como posso ajuda-lo, não sei como explicar porque somos felizes, nós simplesmente somos felizes porque não há motivos para não sermos. Esta é a nossa natureza e deveria ser a de todos. Tudo é perfeito e você pode viver a sua própria perfeição também, todos podem.
- Eu não entendo. Deve haver algum mistério aqui, alguma magia talvez, que torne esse lugar assim tão belo e as pessoas tão felizes.
-Magia? Sim, pode acreditar. A magia que existe aqui, é a magia que vem do coração de pessoas como você, pessoas que a enxergam e que a sentem. Mas eu já sei o que vou fazer. Porque não fica aqui no castelo por alguns dias? Assim, poderá conversar com as pessoas, visitar todo o reino e quem sabe você mesmo descobrirá o que precisa saber. O que você acha, aceita?
- Sim, claro que aceito. Será uma honra para mim. Eu lhe serei eternamente grato.
- Augusto, nosso jardineiro vai lhe mostrar tudo que precisa saber e também pode irá providenciar seus aposentos. Fique o tempo que precisar. Até breve.
-Até breve princesa – disse o rapaz curvando-se para frente, fazendo uma reverência.
Augusto, que estava impressionado com a história do rapaz, levou-o para a cozinha para que pudesse se alimentar, o rapaz parecia cansado e faminto. E ele realmente estava.
A cozinheira havia preparado um banquete para o rapaz que não estava acostumado com tanta comida. Thomas comeu tanto que mal podia se levantar. Augusto estava curioso, queria saber mais sobre a sua cidade. Onde ficava, como viviam e porque sofriam daquela maneira? Thomas dizia que desde que nasceu a cidade sempre foi assim. Com pouca luz, acinzentada e com um aspecto triste e sem vida que se podia observar até nas casas, que não tinham nenhuma cor. Não havia uma flor sequer naquela região. Todos eram tomados por tamanha tristeza e desânimo que pareciam estar sempre doentes.
-E o que fez com que você saísse em busca de ajuda? O que fez você acreditar que as coisas poderiam ser diferentes em sua vida e em sua cidade, uma vez que você nasceu naquele lugar e nunca conheceu a alegria ou a felicidade? – perguntou Augusto.
-Sim, eu nasci naquele lugar e convivi com esse cenário durante toda a minha vida, mas na verdade, no fundo do meu ser, eu nunca acreditei que todos os lugares fossem assim. Eu nunca aceitei que uma cidade pudesse ser assim. Apesar de olhar para os mesmos problemas todos os dias, de conviver com as mesmas pessoas todos os dias e ouvir as mesmas queixas e reclamações, eu lutava dentro de mim, com todas as forças, para que Deus um dia me mostrasse que eu estava certo. Que a vida não é só isso, que a vida não pode ser só isso. Eu tinha a certeza dentro de mim, que em algum lugar, havia uma forma melhor de se viver. Então, um dia quando eu não suportava mais todo aquele peso em meus ombros, a angústia em meu peito, eu saí andando sozinho por uma estrada. Eu não sabia para onde ir, mas em meu coração havia uma esperança, e eu parti, amparado apenas por essa esperança. Depois de caminhar dias e noites, encontrei um homem sentado na beira de um rio. Era um homem tranquilo e sábio que me ajudou muito. Ele me disse que o lugar que eu estava procurando existia e que não estava muito longe. Mas eu estava muito triste e abatido para chegar até lá. Eu precisava melhorar, eu precisava de pensamentos mais positivos, eu precisava de sentimentos mais alegres. Então, ele me contou muitas histórias de belos lugares e de uma vida feliz e prospera. Me ensinou a ver o quanto eu sou corajoso, forte e quanta bondade eu tenho dentro de mim. E assim, com uma carga mais leve, com o coração mais leve e com uma visão da beleza que eu pude ver dentro de mim mesmo, eu cheguei até aqui.
-E o que você sentiu quando chegou a este lugar?
-Eu senti que estava em casa.
-E agora, o que pretende fazer?
-Dizer para as pessoas que esse lugar existe e que elas também podem viver aqui se assim desejarem. Mas eu sei que elas não acreditarão em mim, porque estão acostumadas demais com aquela mesma vida de sempre. Elas acham que só existe aquele lugar no mundo. Eu sei que nada do que eu diga, fará com que elas mudem de ideia. Então, eu espero que quando elas olharem para mim novamente, elas percebam que estou diferente, que estou muito mudado. Eu espero que elas fiquem curiosas para saber porque estou sorrindo mais, porque estou mais amável e que brilho é esse em meus olhos. Então, eu terei o maior prazer em contar-lhes sobre esse lugar, e as maravilhas que eu vi aqui. E melhor ainda, poderei mostrar-lhes o caminho que eu percorri. O caminho para o paraíso.
